Produzir mais e melhor de forma sustentável é o desafio enfrentado por empresas há algum tempo e é a situação mais instigante para o agronegócio – já que o setor precisa administrar uma questão sempre sensível; o desmatamento.
E quando o assunto é desmatamento no Brasil a palavra que surge na cabeça da população engajada com preservação se destaca é ‘Amazônia’.
Uma floresta com mais de 6 milhões de quilômetros quadrados, distribuídos por nove países da América do Sul, claro, sendo o Brasil o maior entre eles.
A área representa um terço das florestas tropicais úmidas do mundo e estima-se que detém 20% da água doce do planeta. Além de ser o habitat de inúmeras espécies e as pesquisas indicam que sempre há mais por descobrir em biodiversidade naquela região.
A gente sabe o que é desmatamento, mas vamos lembrar que entre os prejuízos que o desflorestamento provoca estão o desaparecimento de ecossistemas inteiros e a perda de vegetação preciosa; ausências que contribuem para o desequilíbrio do clima.
E clima, como sabemos, tem tudo a ver com produtividade no agronegócio.
Assim, chegamos a uma conta difícil de fechar.
Por um lado o agronegócio precisa de grandes áreas para se desenvolver, mas por outro lado prejuízos à conservação do meio ambiente e mudanças climáticas são consequências do desmatamento e prejudiciais às atividades no campo.
Desmatamento: monitoramento e controle geram resultado positivo
Não são poucos os estudos indicando que o desmatamento florestal é o grande vilão contra a biodiversidade. Como as consequências tendem a ser sérias, não é de se admirar que o desmatamento na Amazônia preocupe tanto, pois se trata da maior floresta tropical do mundo.
No Brasil, desde 1988 o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) realiza o acompanhamento sistemático do avanço do desmatamento da floresta amazônica.
O controle é feito por meio do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento da Amazônia Legal por Satélite) com imagens de satélite como o Landsat.
O mapeamento tem aplicação prática pelo governo brasileiro na criação de políticas públicas para administrar o binômio produção-conservação.
Segundo o Prodes, em 2017 foram desmatados 6.624 km². Um pouco menos do que em 2016, quando 7.893 km² de floresta desapareceram. São sempre números impressionantes.
Mas o desmatamento não se limita à Amazônia. Outros biomas importantes do país convivem com essa questão.
Cerrado e Mata Atlântica cobram atenção
Originalmente a Mata Atlântica cobria uma área de 1.345.300 km². Um tapete verde que se estendia por toda a costa atlântica do Brasil até o noroeste da Argentina, incluindo também um pouco do Paraguai.
Atualmente, esse tapete verde têm somente 226.124 km². O desmatamento da Mata Atlântica, mais intenso no século 20, reduziu o bioma a cerca de 16,8% da área original.
Mesmo assim, é responsável pelo abrigo de 7% das espécies de plantas e 5% dos vertebrados do planeta. Os dados são da WWF-Brasil.
Ainda falando dos biomas maiores e mais importantes do Brasil, chegamos ao Cerrado, que só perde para a Amazônia.
Desmatamento e queimadas reduziram os dois milhões de km² do Cerrado a apenas 20%. É preocupante porque a região é o berço de inúmeras nascentes que correm risco com o desmatamento do cerrado. O desaparecimento delas seria prejudicial à manutenção de rios importantes.
É preciso registrar que cerca de 50% da cobertura vegetal do bioma já se perdeu. Mas a boa notícia é que relatório de monitoramento do INPE revela também que, entre 2015 e 2017, ocorreu uma redução da taxa de desmatamento em torno de 40%.
A importância do monitoramento e da busca de soluções
As imagens de desmatamento que estamos acostumados a ver em reportagens são, principalmente, adquiridas pelo INPE, do satélite americano Landsat, ao custo anual de US$ 250 mil dólares.
O monitoramento é complementado com informações do CBERS 4, satélite construído com uma parceria entre Brasil e China.
E por que estamos falando disso? Simples, é importante conhecer e acompanhar as causas do desmatamento para traçar caminhos para o desenvolvimento sustentável.
Um exemplo da importância de se debruçar sobre esse assunto, com dados confiáveis em mãos, é o que se convencionou chamar de arco do desmatamento.
São 500 mil km² de terras, que compreendem áreas do Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre, e formam uma fronteira entre produção agrícola e floresta. Estudos apontam que é nessa região que se encontram os índices mais altos de desmatamento da Amazônia.
Soja, arroz e milho se destacam como cultivos principais nessa área, especialmente nos estados de Mato Grosso e Maranhão.
Possíveis soluções para a necessidade de aumentar produção sem desmatar
Como a WWF Brasil vem dizendo, é possível converter em agricultura áreas degradadas ou usadas somente em pastagens com baixa eficiência, mudando para manejo integrado. A mudança de uso da terra no sentido positivo pode ser a solução para resolver o problema. O outro aspecto a ser observado, segundo Veronica Rubio da Fundação ProTerra, é a diminuição de poluição e emissões não somente pelo manejo integrado, mas também pela adoção de tecnologias inovadoras que reduzam a utilização de fertilizantes químicos e agrotóxicos.
Transgênicos e sustentabilidade: um debate necessário
Nesse ponto consideramos o encontro de dois temas sempre controversos: conservação ambiental e agricultura transgênica.
Há estudos que defendem a utilização dos transgênicos, ou Organismos Geneticamente Modificados – OGMs – como forma de contribuir para a redução do desmatamento.
A conta é simples. Mais resistência às pragas, menor perda de produção = redução da necessidade de ampliar a área de plantio.
Mas existem também pesquisas que apontam a necessidade de ampliar o conhecimento sobre os impactos dos transgênicos para o meio ambiente e o consumo humano.
Outro ponto que se tem dados objetivos: dependendo da região, a cultura convencional tem maior rendimento, é mais resistente a pragas (por exemplo nematoides) e a extremos climáticos.
Uma coisa parece clara; resistir ao plantio de transgênicos e não desenvolver critérios e políticas para o setor pode ser um risco frente à necessidade crescente de produção de alimentos no Brasil e no mundo; o que torna vital entender as consequências do desmatamento.
Nesse universo, algumas questões se sobressaem: será cada vez mais difícil avançar sem adotar soluções para o desmatamento predatório e, talvez o mais importante, é essencial comunicar essas práticas ao consumidor final; razão de cada semente lançada ao solo.
Certificação: selos de qualidade que diferenciam seu produto
O produtor consciente da evolução do mercado já entendeu há algum tempo que as pessoas não têm considerado apenas qualidade e preço ao escolherem os alimentos que levam à mesa.
Cresce cada vez mais a parcela dos consumidores que se preocupa também com o histórico de produção do alimento e como ela impacta o meio ambiente.
E são as escolhas de quem compra que norteiam as ações necessárias na cadeia de produção, o que inclui o mercado internacional.
O mercado comprador europeu, por exemplo, é um dos mais exigentes quantos a questões como produção com eficiência ambiental e estratégias que contribuam para desacelerar o processo de mudanças climáticas. Redução do desmatamento entre eles.
É exatamente nesse ponto que um programa de certificação reconhecido mostra seu valor.
Certificações como o ProFarm foram criadas para atender à demanda do mercado por uma solução de certificação e verificação para sustentabilidade ambiental e responsabilidade social na agricultura.
O objetivo do programa é ser flexível e ágil para abranger grandes áreas de cultivo e múltiplas culturas. Caso, por exemplo, de quem produz em grande escala no chamado “arco do desmatamento”.
Culturas como soja e arroz, que enfrentam cada dia mais exigências nos mercados externos, podem angariar benefícios importantes com a adoção do programa.
E um meio onde as indústrias exportadoras se equivalem em qualidade, a demonstração de sustentabilidade e de comprovantes de análises laboratoriais sérias para micotoxinas e pesticidas para compradores nacionais e internacionais cada vez mais exigentes é o que cria uma diferenciação positiva.